O PARADIGMA DA IDENTIDADE NEGRA
A RENATURALIZAÇÃO DO CAPITALISMO NO BRANDING DA MARCA RESERVA
Palavras-chave:
Linguística Aplicada; identidade negra; capitalismoResumo
Ancorado na Linguística Aplicada crítica e interdisciplinar (Moita-Lopes, 2009), este artigo analisa como campanhas de marketing da marca de roupas Reserva mobilizam discursos de inclusão para reforçar lógicas capitalistas de controle e exclusão, especialmente voltadas à identidade negra. O objetivo do estudo é compreender de que modo estratégias de branding, sob a aparência de representatividade e diversidade, reafirmam padrões de normatividade branca. Metodologicamente, parte-se da análise de uma das campanhas da marca contra o preconceito, em 2015 – o que gerou ampla repercussão negativa. Com base em autores como Hall (2006), Haider (2019), Foucault (1979), Han (2017) e Fanon (2008), investiga-se como a identidade negra é construída discursivamente, sujeita a relações de poder e integrada às dinâmicas econômicas contemporâneas. O artigo demonstra que a hipervisibilidade, o culto à diferença e a política identitária, quando apropriados pelo mercado, operam como formas de segmentação, controle social e esvaziamento político. Conclui-se que a inclusão promovida por essas campanhas não rompe com estruturas de opressão, mas as renova, transformando sujeitos em produtos e identidades em mercadorias. Assim, propõe-se uma reflexão crítica sobre as práticas discursivas das marcas, com vistas à construção de uma linguística engajada na transformação social.
Referências
ALMEIDA, L. S. de. Mãe, cuidadora e trabalhadora: as múltiplas identidades de mães que trabalham. Revista do Departamento de Psicologia. Uff, [S.L.], v. 19, n. 2, p. 411-422, dez. 2007. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s0104-80232007000200011.
ESTADÃO. Grife carioca faz campanha-manifesto contra o preconceito. 2015. https://www.estadao.com.br/emais/moda-e-beleza/grife-carioca-faz-campanha-manifesto-contra-o-preconceito/. Acesso em: 13 jul. 2025.
FOUCAULT, M. Microfísica do Poder. Trad. e org. Roberto Machado. Rio de Janeiro: Graal, 1979.
GEE, J. P. Identity as analytic lens for research in education. Review of Research in Education, v. 25, 2000–2001. p. 99-125.
GLOBO. Grife carioca é criticada por etiquetas que aconselham público a dar roupa para mãe lavar. 2014. https://oglobo.globo.com/brasil/grife-carioca-criticada-por-etiquetas-que-aconselham-publico-dar-roupa-para-mae-lavar-14407508. Acesso em: 13 jul. 2025.
GOMES, N. L. et al. Alguns termos e conceitos presentes no debate sobre relações raciais no Brasil: uma breve discussão. Educação anti-racista: caminhos abertos pela Lei Federal, v. 10639, n. 03, p. 39-62, 2005.
GZH. Marca causa polêmica com campanha contra o preconceito: "Macaco é um animal, Fabricio é um ser humano. 2015. Disponível em: https://gauchazh.clicrbs.com.br/comportamento/noticia/2015/03/marca-causa-polemica-com-campanha-contra-o-preconceito-macaco-e-um-animal-fabricio-e-um-ser-humano-4726081.html. Acesso em: 13 jul. 2025.
HAIDER, A. A armadilha da identidade: raça e classe dos dias de hoje. São Paulo: Veneta, 2019.
HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. 11. ed. Rio de Janeiro: DP&A. 2006. 102 p.
HAN, B.C. Sociedade da Transparência. Petrópolis: Vozes, 2017.
MACHADO, R. Introdução. Por uma genealogia do saber. In: FOUCAULT, M. Microfísica do Poder. Trad. e org. Roberto Machado. Rio de Janeiro: Graal, 1979.
MOITA-LOPES, L. P. da. Linguística aplicada como lugar de construir verdades contingentes: sexualidades, ética e política. Gragoatá. Niterói, n. 27, p. 33-50, 2. sem. 2009.
MUNANGA, K. Identidade, cidadania e democracia: algumas reflexões sobre os
discursos anti-racistas no Brasil. In: SPINK, M. J. P. (Org.) A cidadania em construção: uma reflexão transdisciplinar. São Paulo: Cortez, 1994, p.177-187.
SANTOS, G. N. A linguagem como zona do não-ser na vida de pessoas negras no sul global. Gragoatá, Niterói, v. 28, n. 60, e-53299, jan.-abr. 2023. Disponível em: https://doi.org/10.22409/gragoata.v28i60.53299.pt
SILVA, T. T. da. (org.) Identidade e Diferença: a perspectiva dos Estudos Culturais. 14. ed. Petrópolis: Vozes, 2014.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Revista Letras Escreve

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
