UMA ANÁLISE RESIDUAL DO CONTO “UMA GALINHA” DE CLARICE LISPECTOR

RESQUÍCIOS DE UM VETUSTO PATRIARCADO

Autores/as

Palabras clave:

Clarice Lispector. Patriarcado. Família. Resíduo. Arquétipo.

Resumen

Publicado em 1960 dentro do livro “Laços de família”, o conto “Uma galinha” junto com as demais histórias que compõem a obra, nos traz um retrato premonitório das lutas pelos direitos das mulheres que marcaram a década de sessenta. Com magistral destreza, na brevidade das três páginas do texto, através de uma narrativa aparentemente corriqueira, a inesperada e insuspeitada fuga de uma galinha que serviria de almoço dominical de uma família brasileira de classe média e os fatos derivados desse efêmero sonho de liberdade da ave, a autora nos leva a pensar que nem tudo é o que parece. Por meio da analogia entre a galinha fugitiva e a tradicional imagem da mulher presa ao lar e às obrigações de uma sufocante sociedade que a posiciona em um papel secundário na denominada família nuclear, o conto revisita lugares comuns dentro de um retrógrado patriarcado que se resiste a sair de cena e se traduz por meio de uma série de arquétipos que desde séculos atrás, de acordo com Jung (2018), se materializam através de determinados padrões de comportamento que residem no inconsciente coletivo e se constituem como resíduos que remanescem de uma época para outra (PONTES,2017).  Na nossa análise, nos detemos nestas formas arquetípicas para observar a crítica que a autora faz da sociedade de seu tempo e o conservadorismo imperante de uma classe que aceitava de bom grado uma discutível polaridade da família, entre o benfeitor que cuida de trazer o pão para o lar e a mulher que, privada de liberdade, é obrigada a permanecer na sua singular “gaiola”.

Biografía del autor/a

Juan Ignacio Jurado Centurión, Universidade Federal da Paraíba

É formado em Letras pela Universidade Federal de Pernambuco, tendo obtido em 2006 o titulo de Mestre pela mesma. A sua Tese de Doutorado em Teoria da Literatura foi defendida em 2011. Desde 1994 até 2007 trabalhou como professor e Coordenador Cultural no Centro Cultural Brasil Espanha. Como coordenador cultural tem promovido numerosas exposições no Recife estabelecendo parcerias com instituições como a UFPE, o Museu da Imagem e do Som de Pernambuco, a Fundação Joaquim Nabuco, etc.

Citas

BAHIANA. Ana Maria. Almanaque 1964. 1ª edição. São Paulo: Companhia das Letras. 2014

BOCK, Gisela. Apud DUBY, Georges; PERROT. Michelle. Historia de las mujeres. Vol.5: El siglo XX. Madrid: Ed. Taurus. 2000.

FERNANDES, Cláudio. "Família patriarcal no Brasil"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiab/familia-patriarcal-no-brasil.htm. Acesso em 09 de setembro de 2023.

JUNG, Carl Gustav. Os arquétipos e o inconsciente coletivo Vol. 9/1. Editora Vozes Limitada, 2018.

KADOTA, Neiva Pitta. A Tessitura dissimulada. O social em Clarice Lispector. São Paulo: Editora Plêiade. 1995.

LISPECTOR, Clarice. Cuentos reunidos. 2ª Edición. Trad. Cristina Pier Rossi, Marcelo Cohen e Mario Morales. Madrid: Editorial Siruela. 2017.

LISPECTOR, Clarice. Laços de Família. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1998.

LISPECTOR, Clarice. Literatura comentada. Seleção de textos, notas estudo biográfico, histórico e crítico e exercícios por Samira Youseff Campedelli e Benjamin Abdala Jr.São Paulo: Abril educação, 1991.

MONCORVO. Maria Cecília Ribeiro. Criando os filhos sozinha: a perspectiva feminina da família monoparental. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: 2008.

Publicado

2024-11-09

Cómo citar

CENTURIÓN, Juan Ignacio Jurado. UMA ANÁLISE RESIDUAL DO CONTO “UMA GALINHA” DE CLARICE LISPECTOR: RESQUÍCIOS DE UM VETUSTO PATRIARCADO. Letras Escreve, [S. l.], v. 14, n. 1, p. 125–134, 2024. Disponível em: https://periodicos.unifap.br/letrasescreve/article/view/64. Acesso em: 4 dic. 2024.