UMA ANÁLISE RESIDUAL DO CONTO “UMA GALINHA” DE CLARICE LISPECTOR
RESQUÍCIOS DE UM VETUSTO PATRIARCADO
Palavras-chave:
Clarice Lispector. Patriarcado. Família. Resíduo. Arquétipo.Resumo
Publicado em 1960 dentro do livro “Laços de família”, o conto “Uma galinha” junto com as demais histórias que compõem a obra, nos traz um retrato premonitório das lutas pelos direitos das mulheres que marcaram a década de sessenta. Com magistral destreza, na brevidade das três páginas do texto, através de uma narrativa aparentemente corriqueira, a inesperada e insuspeitada fuga de uma galinha que serviria de almoço dominical de uma família brasileira de classe média e os fatos derivados desse efêmero sonho de liberdade da ave, a autora nos leva a pensar que nem tudo é o que parece. Por meio da analogia entre a galinha fugitiva e a tradicional imagem da mulher presa ao lar e às obrigações de uma sufocante sociedade que a posiciona em um papel secundário na denominada família nuclear, o conto revisita lugares comuns dentro de um retrógrado patriarcado que se resiste a sair de cena e se traduz por meio de uma série de arquétipos que desde séculos atrás, de acordo com Jung (2018), se materializam através de determinados padrões de comportamento que residem no inconsciente coletivo e se constituem como resíduos que remanescem de uma época para outra (PONTES,2017). Na nossa análise, nos detemos nestas formas arquetípicas para observar a crítica que a autora faz da sociedade de seu tempo e o conservadorismo imperante de uma classe que aceitava de bom grado uma discutível polaridade da família, entre o benfeitor que cuida de trazer o pão para o lar e a mulher que, privada de liberdade, é obrigada a permanecer na sua singular “gaiola”.
Referências
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