APRESENTAÇÃO DO DOSSIÊ

Autores

  • Rosirene Martins Lima UEMA
  • Magno Vasconcelos Pereira Junior UEMA
  • Ana Tereza Reis da Silva UNB
  • Miguel Henrique da Cunha Filho UERN

Resumo

O chamado Consenso de Commodities, que designa a centralidade da exploração e exportação de bens primários como principal vetor de desenvolvimento em países periféricos, é a expressão mais agressiva do “neoextrativismo liberal-conservador”. No Brasil a expansão do agronegócio e a crescente importância das commodities agrícolas, demonstram como as monoculturas, sobretudo a da soja, assumiram um papel central na agenda econômica nacional. Neste contexto, embora os ganhos econômicos sejam amplamente celebrados, as monoculturas, a financeirização da terra, a expropriação dos territórios de Comunidade Tradicionais e o uso de agrotóxicos em larga escala revelam o outro lado desse processo: a degradação de ecossistemas, a perda de biodiversidade e a intensificação de conflitos socioambientais que afetam povos indígenas, comunidades quilombolas e comunidades tradicionais, como as populações ribeirinhas e os pequenos agricultores, ameaçando colapsar seus modos de vida e suas existências. Esses grupos, historicamente marginalizados, veem-se em constante disputa pela manutenção de seus modos de vida e pela preservação de suas terras frente aos avanços de empreendimentos econômicos de grande porte.
Nessa conjuntura, projetos de infraestrutura como hidrelétricas, grandes complexos industriais e a exploração de recursos naturais despontam como instrumentos de uma retórica desenvolvimentista, frequentemente acompanhada pela flexibilização de legislações ambientais. As tensões daí decorrentes manifestam-se tanto em áreas rurais, onde povos indígenas, quilombolas e outras comunidades tradicionais lutam contra a expropriação de suas terras, quanto em espaços urbanos, marcados pela desigualdade socioespacial, pela carência de serviços básicos e pela crescente dificuldade de gestão de resíduos sólidos e de planejamento habitacional. A crise urbana, por sua vez, reflete igualmente o desequilíbrio inerente a um modelo de crescimento centrado em interesses econômicos imediatos, sem a devida atenção às demandas sociais e ambientais de longo prazo.
É diante desse cenário de complexas interações entre economia, política e sociedade que este Dossiê é apresentado. Os artigos aqui reunidos oferecem um mosaico de pesquisas interdisciplinares que procuram iluminar aspectos variados das transformações em curso no Brasil e em outros contextos.

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Publicado

2025-03-28