Sobre a Revista

É legitimo o questionamento de quais tem sido os lugares e sujeitos das lutas na América Latina e Caribe, e particularmente no Brasil, sobretudo, porque há historicamente em vigência projetos colonialistas que pairam sobre o nosso continente. Todavia, há tempos, as mulheres denunciam que existem lutas dentro das lutas, se movimentam, se organizam propondo outros tipos de projetos de sociedades, de territórios. Pesquisadoras, intelectuais em todo mundo tem se esforçado no sentido de interpretar essas ações e construir dispositivos de análise que demonstrem as hierarquias sociais entre homens e mulheres, estas últimas como subalternas e oprimidas por, também quem as ladeia nas lutas, evidenciando que o lugar e o poder, essas categorias de análise tão caras as ciências, requerem de nós um olhar mais atento, quiçá feminista, para além do que é definido/limitado como feminino.

Ademais, o acesso à terra é um debate territorial sumariamente masculino na academia, contraditoriamente, as lutas sociais no campo e contra o rentismo demonstram um protagonismo fundamental das mulheres. Nas cidades os processos de urbanização e os mundos do trabalho teimam em não considerar as mulheres como sujeitas da produção e da reprodução capitalista. Como latinas, caribenhas e forçosamente migrantes, isto é, como pessoas majoritariamente não brancas o entrelace de gênero, classe, raça ou interseccionalidades representativas dos lugares e regiões do mundo, faz com que mulheres negras e indígenas sejam as mais brutalmente violadas, assim como as mais susceptíveis à hipersexualização na indústria global do sexo. É necessário transgredir do Gênero à uma Epistemologia Feminista para que a exclusividade de gênero não seja endereçada as mulheres no que toca a interseccionalidade, e aos homens no tocante o acesso ao poder. É necessário, a partir desses aspectos subverter o sentido do poder.

Diante do exposto, o objetivo desse dossiê centra em mapear e analisar as experiências de pesquisa, endossar os relatos e ações de movimentos, organizações, resistências e lutas que tenham como cerne mulheres latino-americanas e caribenhas, bem como os estudos-trabalhos que elaboram uma ciência feminista, do gênero e crítica no sentido de evidenciar as mulheres como sujeitos sociais das lutas da América Latina e Caribe. Assim, nos interessa debater as mulheres como sujeitos, a teoria e métodos feministas e o gênero como dispositivo de análise científica, bem como todas as interseccionalidade que incidem sobre as mulheres (raça, classe, idade, etc.). Importa-nos dizer que essa proposta de dossiê é resultante das discussões conjuntadas no XV ENANPEGE (Encontro Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia) ocorrido em 2023 a partir de um grupo de trabalho (GT) que dá nome a esse dossiê.

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