Comer, Matar e Outras Desavenças Culinárias

Laísa Fernandes Tossin

Resumo


Neste artigo, traço as relações que compõem o tecido ideológico que sustenta o processo de significação e de estabelecimento dos sentidos profundamente opacos presentes nas materialidades linguísticas: yakú (comer papa ou goma) e yani (comer carne de caça ou peixe) em Macuxi; e hau (comer papa) e hebu (comer peixe ou carne de caça) em Kulina. Exponho a estratégia de produção permanente de comida, a mobilidade causada pelas necessidades sazonais (chuva e seca), oscilando entre a vida na aldeia, nos períodos de estiagem e a vida nos tesos, em pequenos grupos, no período da cheia, para discutir a existência de “um real” independente de discursos feitos a seu respeito. No encontro entre duas discursividades distintas, portanto entre “dois reais” distintos, a universalidade representada pela homogeneidade lógica é posta em questão, rompendo com as relações epistemologicamente construídas entre estrutura de processos mentais e designação, permeada pela possível construção de “um real” não comum e não universal.


Palavras-chave


Semântica da Enunciação; Designação em Kulina e Macuxi; Verbo “comer”; Formações Discursivas em Kulina e Macuxi; Memória Discursiva Regionalizada.

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DOI: https://doi.org/10.18468/rbli.2020v3n1.p122-134

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