A queda para o alto: a experiência de Anderson Herzer na construção de seu corpo, de seu gênero, de sua sexualidade

Leocádia Aparecida Chaves

Resumo


Este artigo discutirá, a partir da autobiografia de Anderson Herzer, A queda para o alto, a construção de seu gênero, de seu corpo e de sua sexualidade, fundamentalmente, no período que foi interno na Fundação Estadual para o Bem Estar do Menor (Febem) nos anos de 1980 em São Paulo. Salienta-se que essa experiência será marcada por múltiplas violências ainda hoje impostas, em todos os espaços de nossa sociedade, a todos àqueles desviantes da norma cisgênera heteronormativa sedimentada e alimentada pela dominação masculina. Herzer, porém, como um guerreiro em campo de batalha não se sucumbirá às regras que lhes foram determinadas ao nascer; identificado como Sandra até a adolescência se construirá Anderson. Portanto, como um “imigrante de um padrão normativo” viverá sob a pele que habita o estigma de doente, o estigma que carrega o desvirtuador da ordem patriarcal estabelecida. No entanto, subverterá esta ordem e ao (re)ocupar seu corpo, sua identidade, sua sexualidade, ocupará subversivamente o  espaço da escrita revelando tanto a sua potente lucidez - contrariando os discursos opressores - quanto aos efeitos tóxicos da dominação masculina na constituição de sua experiência identitária. Dessa forma, se por um lado “desvia da ordem”, por outro, paradoxalmente, a reafirma. Nesta perspectiva, salientamos a importância dessa escrita denúncia, dessa escrita desabafo que de forma engajada revela os dispositivos do poder que nos impõe um modus vivendi que violenta, que oprime que, não raras vezes, leva à morte aquele que desvia da ordem imposta pelo Estado, pela Igreja, pela Ciência e pela Família.


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DOI: https://doi.org/10.18468/letras.2017v7n4.p59-77

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