VALSA N° 6 (1951): A FACE MONSTRUOSA DA MORTE NO MONÓLOGO RODRIGUIANO

Dênis Moura de Quadros

Resumo


Partindo da face monstruosa da morte, representada miticamente pela máscara de Gorgó (Vernant, 1998; 2001), pretendemos articular os conceitos de “teatro da morte” de Kantor (1998), “teatro da crueldade” de Artaud (2006) e a tese acerca de metateatralidade de Abel (1968) para compreendermos como o teatro, obra de arte social, permite-nos experimentar a morte. Para tanto, Valsa n°6 (1951), único monólogo de Nelson Rodrigues, abre a possibilidade de vermos essa monstruosa face, construída pelo evocamento do nome, Derrida (1995a), de Sônia que através da metateatralidade constitui o desagradável rodriguiano. Ainda, a peça traz marcas evidentes de autotextualidade, principalmente com Vestido de noiva (1943) e intertextualidade com o monólogo de Pedro Bloch, As mãos de Eurídice (1950) que faz referência ao mito de Orfeu e Eurídice na visão órfica (Brandão, 1987). A monstruosidade, segundo Jeha (2007), é uma das metáforas do mal e como maldita, a morte é negada, segundo Becker (1973), e temida. Desse medo da morte e do morrer baseia-se nossa existência e é diante dela, da morte, que segundo Heidegger (2005), atingimos nossa plenitude, logo essas duas forças: negar e aceitar, assemelham-se ao antagônico dionisíaco e apolíneo, segundo Nietzsche (2013), que convivem nesse espaço de tensão que é o teatro. Adotando o conceito de espaço de tensão de Féral (2015) em que o teatro ocidental tem uma forte ligação com a morte, no sentido do vazio primeiro, elencamos Sônia, essa estrangeira de si mesma (Kristeva, 1994) para experimentarmos a face monstruosa e desagradável da morte.


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DOI: https://doi.org/10.18468/letras.2017v7n3.p209-223

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