SIRVENTÊS E A POESIA INSUBMISSA: UMA QUESTÃO RESIDUAL
Resumo
O sirventês é um modo poemático mediévico praticado pelos trovadores para fins políticos. Pertence ao campo da sátira, estilo literário apropriado ao objetivo de zombar, ironizar e criticar vícios humanos, inclusive abordando temas políticos e sociais. No século XX, no Brasil, desenvolve-se exponencialmente uma poesia com viés também social e político, em especial, por autores da vertente Protesto Social da Geração 60 da Literatura Brasileira, na qual muito se produziu literatura em decorrência do golpe militar de 1964. Essa geração foi devidamente caracterizada pelo poeta e crítico Pedro Lyra na “Introdução” a Sincretismo: A poesia da Geração 60 (2005). Esse modelo poético, considerado poesia insubmissa, soa como eco do sirventês medieval. Neste artigo tomaremos o livro Verbo Encarnado, do escritor cearense Roberto Pontes, publicado em 1996, como comparativo da análise residual entre a aproximação dessa poesia medieval e a produção poética na obra ponteana. Nosso trabalho objetiva compreender e demonstrar como esse resíduo de poesia anterior, de cunho social, perpetua-se e reverbera em produções poéticas atuais, como a escrita na década de 90, do séc. XX, no Brasil. Lançando mão de poemas caracterizados como sirventês, da poesia insubmissa de Roberto Pontes, procederemos a um cotejo que verifique a remanescência de uma concepção poética noutra.