De tenzón a peleja: o processo residual para os cantadores do sertão nordestino brasileiro
Palavras-chave:
Poesia oral, Peleja, Trovadorismo, Tradição popular, Hibridação culturalResumo
Este trabalho propõe uma reflexão sobre as conexões entre antigas formas poéticas europeias e a tradição oral do sertão nordestino brasileiro. O foco recai sobre a tenzón e sua permanência na peleja dos cantadores nordestinos. A comparação entre essas manifestações distantes no tempo, mas próximas em estrutura e função, já foi observada por estudiosos como Luís da Câmara Cascudo, em Vaqueiros e Cantadores (1984), e por Leonardo Mota, em Cantadores – Poesia e linguagem do sertão cearense (2002). Em ambas as obras, identifica-se o quanto a oralidade popular preserva traços estilísticos, performáticos e simbólicos de tradições poéticas antigas. A peleja nordestina, por exemplo, carrega elementos que ecoam práticas medievais: o improviso metrificado, o duelo verbal, o engajamento do público e o papel social do poeta como intérprete da coletividade. Ancorado em uma abordagem literária e histórico-comparativa, o estudo defende que essas semelhanças não são coincidência, mas resultado de processos de hibridação cultural, pelos quais formas antigas se fixam, se adaptam e continuam a existir em contextos renovados. Reconhecer e estudar essas “velhas” tradições é essencial para entender como certos modos de fazer poético resistem ao tempo e seguem vivos, sobretudo nas expressões populares, marcadas pela oralidade, pela memória e pela reinvenção constante da linguagem.